Foto: Ingo Isernhagen
Esta é a primeira capacitação em formato de trilha de aprendizagem
voltada para a restauração dos biomas brasileiros
A Embrapa acaba de disponibilizar a primeira de seis trilhas de aprendizagens sobre “Recomposição de Áreas Degradadas e/ou Alteradas nos Biomas Brasileiros”. Interessados já podem acessar, de forma on-line, pela plataforma e-Campo, os conhecimentos referentes ao bioma Mata Atlântica. Um dos objetivos é fornecer ferramentas para a elaboração de Projetos de Recomposição de Áreas Degradadas e Alteradas (Pradas), capacitando os participantes em técnicas de identificação, avaliação e restauração eficazes da vegetação nativa. A iniciativa integra o bojo de ações referentes à COP30 e surge em um momento estratégico, alinhada às discussões globais sobre sustentabilidade e à crescente demanda por ações concretas de recuperação ambiental. Também é uma contribuição da Embrapa à Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas (2021-2030).
Composta por três cursos e com carga horária total de 60 horas, a trilha é voltada a técnicos ambientais, produtores rurais, consultores, estudantes e interessados na conservação da Mata Atlântica. O conteúdo trata desde as estratégias de recomposição até o monitoramento, abordando também aspectos específicos da Mata Atlântica, como característica do bioma, fatores e diagnóstico da degradação. Também há exercícios para aplicação do conhecimento, apresentação de casos de sucesso e para os que concluírem a trilha de aprendizagem será facultada a participação em uma live interativa, com os especialistas da Embrapa e parceiros.
Espécies a serem utilizadas, espaçamento no plantio, adubação, tratos culturais, entre outras informações, são abordadas no conteúdo, de forma a auxiliar na tomada de decisão para adequação ambiental da propriedade rural. “Quem concluir a trilha de aprendizagem, seja técnico ou produtor rural, terá muito mais confiança ao submeter os projetos de recuperação – os Pradas – para ficar em dia com as obrigações legais envolvendo sua propriedade no que se refere às Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal”, aponta o pesquisador da Embrapa Agrobiologia (Seropédica, RJ) Luiz Fernando Duarte de Moraes, um dos colaboradores e conteudistas do curso.
Recomposição vegetal e regulação climática
A Mata Atlântica é o bioma mais degradado do Brasil, pois foi o primeiro a ser ocupado. Nela, vivem mais de 120 milhões de pessoas em diferentes ecossistemas, como áreas de floresta, restinga ou campos rupestres, por exemplo. Entretanto, apesar de muito reduzido em relação à área original de vegetação nativa, ainda abriga uma das maiores biodiversidades do planeta. “Manter a Floresta Atlântica em pé é manter a regulação do clima e combater as mudanças climáticas, é produzir água, é ter abrigo e alimentos para a fauna nativa”, destaca o pesquisador Alexander Resende, também da Embrapa Agrobiologia e outro conteudista do curso.
Segundo ele, alguns cuidados precisam ser tomados ao se falar de recomposição da vegetação, como a retirada dos fatores de degradação – o fogo, por exemplo -, a escolha de espécies certas para cada local e o controle da matocompetição. “O processo de degradação é inerente ao processo produtivo, mas o que podemos fazer é minimizar os impactos. O Brasil tem uma legislação bem favorável, mas que não vem sendo implementada na velocidade que gostaríamos. Este curso atua de forma a apoiar o programa de regularização ambiental de propriedades rurais, fornecendo subsídios técnicos para fazer isso com a qualidade que se espera”, reforça.
De acordo com o Código Florestal, as propriedades rurais têm obrigação de compor as Áreas de Preservação Permanente – que têm importância estratégica para a conservação do solo e das águas e para o fluxo das espécies – e também a Reserva Legal, que corresponde a uma reserva de biodiversidade. “Na Mata Atlântica, essa reserva legal corresponde a 20% da área, salvo algumas exceções, e deve ser coberta por florestas ou pelo ecossistema em que está inserida a propriedade”, explica Moraes.
Antes de abordar a temática da legislação, entretanto, a capacitação leva os participantes a refletirem sobre as condições de degradação de propriedades rurais, ensinando a identificar fatores que podem estar dificultando a regeneração ambiental. “O curso não aborda simplesmente as técnicas para recomposição, mas se debruça sobre as eventuais condições de degradação que devem ser solucionadas. Assim, o agricultor poderá fazer uma reflexão sobre como estão as condições ambientais de sua propriedade, identificando sinais como erosão, eventual redução na produtividade ou mesmo secura da vegetação, o que sugere que o solo não está armazenando água como poderia e pode estar com baixa quantidade de matéria orgânica, por exemplo”, aponta o pesquisador.
O pesquisador Ingo Isernhagen, da Embrapa Florestas, também responsável e conteudista do curso, ressalta a importância de disponibilizar este tipo de conhecimento para a sociedade: “A restauração ecológica é um desafio coletivo, e quanto mais pessoas capacitadas, maior será o impacto positivo no bioma”.
Avanços
Um dos avanços significativos desta capacitação foi a inclusão de conteúdos associados à Mata Atlântica que ultrapassam o eixo Sul-Sudeste, com a participação de especialistas de outras regiões do País. A intenção, segundo os coordenadores, é que sejam feitas atualizações contínuas no conteúdo programático, de forma a sempre levar aos participantes o que há de mais eficaz para a tomada de decisão em projetos de recomposição vegetal.
Dia do Curupira A escolha de 17 de julho para o lançamento, no Dia do Curupira, figura mitológica que protege as florestas, não foi por acaso. A data simboliza a resistência e a proteção das florestas, temas centrais do curso. Além disso, a iniciativa se alinha a compromissos globais, como os discutidos na COP, e abre caminho para a expansão do modelo para outros biomas, como a Amazônia e a Caatinga. “Este é apenas o começo. Queremos que essa capacitação seja um passo importante para formar uma rede de profissionais comprometidos com a recuperação ambiental em todo o País”, finaliza Moraes. |
Estrutura da trilha de aprendizagem A trilha de aprendizagem está disponível no e-Campo, a plataforma de capacitações on-line da Embrapa, com oferta contínua, gratuita e formato assíncrono, permitindo que o interessado realize seus estudos em qualquer hora e de qualquer lugar. Inscrições gratuitas aqui.“Com elas, conseguiremos desenvolver competências mais amplas e integradas e contribuir para a inclusão digital”, afirma a supervisora de Transferência de Tecnologia em Ambientes Digitais da Embrapa, Aline Branquinho. As trilhas do e-Campo são compostas por duas ou mais capacitações on-line de temas afins que abordam diferentes dimensões de uma cadeia produtiva ou de temas transversais estratégicos para a agricultura brasileira.Ao se inscrever na trilha, o participante é automaticamente matriculado em todas as capacitações que a compõem e, ao concluir cada capacitação, recebe o certificado individual, com a carga horária correspondente. Se finalizar todas as capacitações da trilha, recebe um certificado que reconhece o percurso completo e soma a carga horária total e também receberá um convite para participar de uma live interativa com os especialistas responsáveis pelo conteúdo dos cursos. |
Acesse também:
–> Aplicativo Restaura Mata Atlântica
Aplicativo móvel contendo informações sobre espécies florestais nativas da Mata Atlântica.
–> WebAmbiente
O WebAmbiente é um sistema de informação interativo para auxiliar tomadas de decisão no processo de adequação ambiental da paisagem rural e contempla o maior banco de dados já produzido no Brasil sobre espécies vegetais nativas e estratégias para recomposição ambiental.
Manuela Bergamim
Embrapa Florestas