Foto: Luiz Octávio Ramos Filho
Foto: Luiz Octávio Ramos Filho
Aula prática
Atividades práticas com apoio da USP e de coletivos agroecológicos reforçam a autonomia de agricultores e agricultoras na geração de renda com produtos beneficiados e foco em qualidade e comercialização
Com foco no fortalecimento da agricultura familiar e da juventude rural, o Assentamento de Reforma Agrária Sepé Tiaraju, em Serra Azul, SP, sediou nesta semana duas oficinas voltadas à valorização da produção local e ao estímulo da renda por meio do beneficiamento de alimentos. Coordenados pela equipe de Agroecologia da Embrapa Meio Ambiente, com o apoio da USP, do Mutirão Agroflorestal e da Fazenda São Luiz, os encontros abordaram temas como inovação, agregação de valor e boas práticas sanitárias na fabricação de doces artesanais pelas mulheres agroflorestoras do Assentamento.
Na terça-feira, 30 de abril, agricultoras e agricultores participaram de uma oficina prática sobre comercialização e desenvolvimento de produtos com valor agregado. Coordenada por Luiz Octávio Ramos Filho e Myrian Ramos, a atividade propôs a apresentação de criações dos próprios participantes, com foco na diferenciação, na qualidade e na criatividade como estratégias para ampliar os canais de venda e aumentar a rentabilidade.
Para Myrian Ramos, analista da Embrapa, essa oficina sobre boas práticas de esterilização de vidros e boas práticas na fabricação caseira de doces traz muita segurança aos agricultores e agricultoras.
“A comercialização eficiente e a agregação de valor são chaves para transformar a produção local em fonte estável de renda. Isso passa pela melhoria da qualidade dos produtos, por estratégias de marketing e também pela inovação na forma de apresentar e entregar o que é produzido”, afirmou Luiz Octávio Ramos Filho, pesquisador da Embrapa.
A atividade foi conduzida de forma prática, com exposição de produtos já desenvolvidos no assentamento, entrega de rótulos desenvolvidos pela equipe da Embrapa junto aos agricultores e troca de experiências entre os participantes, com foco especial na qualificação dos produtos que serão comercializados na Feira Nacional da Reforma Agrária, que acontece de 8 a 11 de maio em São Paulo.
No dia seguinte, a atenção se voltou às mulheres do assentamento, com a realização do curso “Boas Práticas na Fabricação de Doces Caseiros”. A formação foi ministrada pela nutricionista Wigna da Silva Alves e pela estagiária Isadora Patrícia Talon, ambas da Faculdade de Nutrição da USP em Ribeirão Preto. As participantes aprenderam sobre higienização, esterilização de embalagens, rotulagem e segurança alimentar.
O objetivo do curso foi fortalecer a autonomia das mulheres agricultoras, garantir a qualidade sanitária dos produtos e ampliar suas possibilidades de inserção no mercado local e regional. “A produção de doces caseiros pode ser uma alternativa potente de renda, principalmente para as mulheres do campo. Mas é essencial garantir boas práticas desde o preparo até a embalagem, para oferecer segurança ao consumidor e valorizar ainda mais o trabalho dessas agricultoras”, explicou Wigna Alves.
A nutricionista destacou que um bom produto não depende apenas do sabor, mas também da forma como é apresentado. “Quando se padroniza a produção e a embalagem, com um rótulo informativo, uma logo que transmita os valores da marca e uma embalagem bonita, o produto ganha outra apresentação, agrega valor e pode ser vendido a preços mais justos. Os produtos do assentamento carregam bandeiras importantes: agricultura sem veneno, produção artesanal, reforma agrária, economia solidária. Isso precisa ser bem comunicado para atingir públicos qualificados”, defendeu.
Isadora Talon reforçou o impacto positivo da capacitação. “Ver as mulheres aprendendo e trocando saberes mostrou como o acesso ao conhecimento pode fortalecer seu trabalho. A oficina contribuiu para que elas se sintam mais seguras na produção e comercialização de seus doces, gerando renda extra e valorizando sua autonomia”, disse.
As duas atividades fazem parte dos Projetos REDEFORT, coordenado pela Embrapa Meio Ambiente, e Projeto Armazém Agroflorestal, coordenado pelo Mutirão Agroflorestal e financiado pela Rede Saúva. Tais ações envolvem um esforço coletivo entre Embrapa, Mutirão, universidade, produtores locais e movimentos agroecológicos para construir cadeias produtivas sustentáveis, com identidade própria.
As oficinas também dialogam com os princípios da agroecologia e da economia solidária, reforçando o protagonismo das mulheres e jovens do campo e contribuindo para a construção de alternativas reais de desenvolvimento rural com base na cooperação e na valorização dos saberes locais.
“O grupo de mulheres está muito animado, e já estamos organizando outras oficinas, como produção de pães, biscoitos com derivados beneficiados da mandioca e da batata doce “, informa Myrian Ramos.
Cristina Tordin (MTB 28499/SP)
Embrapa Meio Ambiente
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